sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Autorização para trabalhador estrangeiro sobe 143,7% em 5 anos

O número de autorizações para trabalhadores estrangeiros atuarem no Brasil cresceu 143,7% entre 2006 e 2011, comparando-se dados do primeiro semestre. O levantamento foi feito pelo G1 após consulta às estatísticas disponíveis no site do Ministério do Trabalho. Entre janeiro e junho de 2006, houve 10.891 autorizações; no mesmo período de 2011, foram 26.545.

Os dados do primeiro semestre deste ano foram divulgados na última quinta-feira (7) pelo Ministério do Trabalho, que registrou recorde histórico para o período. Em comparação com o mesmo período de 2010, o crescimento foi de 19,4%. As contratações crescem em função da maior demanda por mão de obra qualificada em meio a um bom momento econômico do país, dizem recrutadoras. A necessidade maior é para a área de petróleo e gás.

A maior parte das autorizações nos últimos cinco anos foi concedida a quem tinha nível superior completo. No primeiro semestre deste ano, representam quase 53% das autorizações concedidas.

arte trabalhado estrangeiro (Foto: Arte G1)

Áreas com maior demanda
Além de óleo e gás, há maior demanda por estrangeiros qualificados em engenharia e construção civil, segundo Alexia Franco, diretora da Hays, empresa especializada em selecionar profissionais para média e alta gerência. As companhias também buscam profissionais com conhecimentos de novas tecnologias na área de pesquisa e desenvolvimento, e com forte formação na área acadêmica. “Uma das demandas é do segmento de energia, em projetos para construções de usinas, por exemplo”, diz.

Alexia diz que na área de óleo e gás, por exemplo, os estrangeiros ficam por tempo determinado para passar aos profissionais brasileiros o conhecimento deles.

O Ministério do Trabalho informa que, da maior parte dos 24,6 mil vistos temporários (de até dois anos) concedidos no primeiro semestre deste ano, 8,23 mil referem-se a contratos para embarcações ou plataformas estrangeiras, sobretudo à produção de petróleo. Essa fatia cresceu 23,6% sobre o primeiro semestre de 2010.

Americanos predominam


Andreza Santana, gerente de marketing do Monster Brasil, especializada em recrutamento e gerenciamento de carreiras online, diz que no site da empresa há mais de 300 mil currículos de estrangeiros que querem trabalhar no país. Segundo ela, 47% são norte-americanos, 10% são franceses, 7% são italianos, 4,5% são espanhóis e 4% são indianos.

No levantamento do governo, os americanos foram os que mais solicitaram autorizações de trabalho em 2010: 7,5 mil. Moradores das Filipinas vêm na sequência, com 6,5 mil; do Reino Unido, com 3,8 mil; Índia, com 3,2 mil, e da Alemanha, com 2,9 mil. Os números do primeiro semestre de 2011 referentes à nacionalidade ainda não foram computados, diz o MTE.

"Eles vêm como expatriados, com contrato determinado de até três anos, ou vêm como estagiários, com bolsas de estudo patrocinadas pelo governo como extensão da formação acadêmica, o que funciona como estágio conclusivo do curso”, explica Fernando Montero da Costa, diretor de operações da Human Brasil, empresa prestadora de serviços em consultoria, recrutamento e seleção de pessoas.

As autorizações temporárias representam o maior volume neste primeiro semestre: 24,6 mil, um aumento de 18,9% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram 20,7 mil. Apesar de as autorizações permanentes representarem um universo bem menor, o crescimento entre janeiro e junho deste ano foi mais expressivo, de 30,3% sobre igual período de 2010.

Crise mundial e 'boom' brasileiro


Os efeitos da crise mundial em seus países também levam estrangeiros à mudança. "Eles querem vir pela oportunidade de trabalhar. Não só por causa dos bons salários, mas porque estão estagnados ou retrocedendo na carreira em função da crise [de 2008] que ainda deixou efeitos em seus países”, afirma Andreza Santana, da Monster.

Montero da Costa, da Human Brasil, diz que os estrangeiros são motivados pelo fato de o país ter salários entre os mais altos do mundo para cargos mais elevados e de difícil preenchimento. A vinda é considerada, segundo Costa, "principalmente quando o salário dele [estrangeiro] em dólar ou em euro está congelado há anos".

Alexia Franco, da Hays, explica que o incremento significativo nas remunerações ocorre devido ao desenvolvimento de novos projetos após a crise mundial. “A gente sofreu o impacto da crise, as empresas seguraram projetos e investimentos. Quando viram que a realidade era melhor, começaram a reinvestir", relembra. "Em um primeiro momento, a oferta foi absorvida. Mas agora há falta de mão de obra após as empresas começarem a desenvolver novos projetos." Essa maior demanda, diz Alexia, ocorre há aproximadamente um ano.

Brasileiro ou estrangeiro?
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, afirmou na última quinta-feira (7) que, antes de conceder o visto aos estrangeiros as empresas têm de fazer anúncios para o mercado interno. "Tem que anunciar em veículos de grande circulação a chamada. Se não apareceu brasileiro, aí pode chamar. É um universo pequeno [os que entram para trabalhar]. Não tem substituição de mão de obra na grande e esmagadora maioria. É mais barato contratar aqui do que trazer uma pessoa para se adaptar."

Tem que anunciar em veículos de grande circulação a chamada. Se não apareceu brasileiro, aí pode chamar"
Carlos Lupi, ministro do Trabalho

A diretora da Hays diz que esses profissionais geralmente vêm transferidos da empresa em seu país para a filial no Brasil. “Mas o custo é grande, porque inclui benefícios como carro, escola, automóvel, visto pra trabalhar, e isso impacta na remuneração. Há ainda a barreira do idioma. A empresa tem que ver se vale a pena o custo”, diz.

De acordo com a Monster, há ainda outros entraves para contratação de estrangeiros, como incompatibilidade de diploma, em que as grades diferentes nas disciplinas acabam não habilitando o profissional para trabalhar em determinadas áreas.

"Não é questão de opção, mas de necessidade. Demora de três a seis meses para conseguir trazer um estrangeiro para cá por causa do trâmite de análise de documentos. E, muitas vezes, é preciso comprovar que ele tem um ano de atuação no segmento que está contratando. Tem ainda a questão da adaptação do estrangeiro, que deve ser levada em conta”, diz Márcia Almström, executiva de recursos humanos da Manpower, empresa mundial de recrutamento.

E na hora de escolher entre um estrangeiro e um brasileiro, Andreza Santana diz que depende da prioridade da empresa. “Se for uma vaga que precisa ter uma visão internacional, ter vários idiomas, o estrangeiro ganha se tiver tudo isso. Se for para vagas que demandam capacidade de compreensão do mercado local, aí a preferência vai para o brasileiro, pois no caso o desafio é adaptar a cultura estrangeira ao gosto local”.

A Vale, por exemplo, diz priorizar o trabalhador nacional, mas, para projetos fora do país, precisa contar com mão de obra estrangeira. "Nós captamos lá fora, treinamos o profissional aqui e mandamos para fora de novo”, explica Renata Romeiro, gerente de atração e seleção de pessoas da companhia. De acordo com ela, 80% do volume dos projetos da empresa ainda é no Brasil. “E há ainda a possibilidade de mandarmos brasileiros em projetos lá fora.”

Fonte: G1.com

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