quarta-feira, 13 de junho de 2012

De portas fechadas, shopping JK Iguatemi leva lojistas ao prejuízo

Daqui a uma semana, o shopping JK Iguatemi deveria comemorar dois meses de operação, tendo passado por duas das datas mais importantes para o varejo. Em vez disso, o empreendimento está prestes a completar 60 dias com a inauguração barrada pela Justiça, num cenário de prejuízo sem precedentes para lojistas.

Prevista inicialmente para 19 de abril, a abertura do shopping no cruzamento das avenidas Juscelino Kubitschek e Nações Unidas, na capital paulista, foi proibida por liminar concedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, devido à não conclusão das obras para desafogar o trânsito na região.

Para ser concluído, o ciclo de aprovações da prefeitura depende de aval da Secretaria Municipal de Transportes (SMT). Esta aguarda os resultados de um estudo sobre o impacto no trânsito local, encomendado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

A construtora WTorre, responsável pelo empreendimento juntamente com a administradora Iguatemi, argumenta que depositou os recursos exigidos para as obras, que só não saíram pela demora da Prefeitura em conceder as aprovações.

Por sua vez, os lojistas estão revoltados e reclamam de prejuízos vultosos pelos dois meses em que as lojas estão fechadas, sem contar as demissões de funcionários e coleções adquiridas seis meses antes, que ficarão encalhadas no estoque.

"O prejuízo é monstruoso... vamos ficar com a mercadoria perdida porque moda é perecível, não teremos onde vender uma coleção passada", disse à Reuters o presidente da Laep Investments, Luiz Cezar Fernandes. A Laep é controladora da boutique de luxo Daslu, que terá uma loja no JK.

O impasse fez os lojistas perderem o período de vendas de Dia das Mães e Dia dos Namorados, segunda e terceira datas mais importantes para o varejo depois do Natal.

Segundo estimativas da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), uma loja convencional vende entre 30 mil e 50 mil reais por dia. Considerando que o shopping JK é voltado principalmente às classes de renda mais altas, com grande parte do mix formado por lojas de grife, a quantia diária seria maior.

"Multiplique isso por 180 lojas fechadas... o prejuízo é muito grande", afirmou o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun, que adicionou à lista de prejuízos a deterioração da imagem da maior cidade brasileira junto a investidores internacionais.

"São 30 empresas estrangeiras de primeira linha que não conseguem abrir as portas e mais de 3.600 funcionários", disse Sahyoun. "Temos a informação de que algumas delas já estão demitindo, mas o pior é a imagem negativa para São Paulo".

O shopping JK Iguatemi ganhou destaque por abrigar a chegada de cerca de 30 marcas inéditas no país, como Top Shop, Chanel Beaute, Prada e Dolce & Gabbana Tory Burch.

Em meio à demora por uma solução, as partes que se sentem prejudicadas vêm elevando o tom. A Alshop planeja manifestação em frente ao JK na próxima semana, buscando uma reunião conclusiva com o prefeito Gilberto Kassab, que não tem se pronunciado sobre o assunto.

"O problema é mais político do que técnico, não faz sentido nenhum", acrescentou o presidente da Laep.

A WTorre aguarda o Termo de Recebimento e Aceitação Parcial (Trap), emitido pela SMT, que permitiria o funcionamento do empreendimento, apesar das obras não terem sido concluídas.

Para o shopping abrir as portas, a Prefeitura exigiu a construção de um viaduto, de faixa adicional num trecho da Marginal Pinheiros, o prolongamento da ciclovia à beira do rio e uma passarela interligando a ciclovia ao Parque do Povo.

Estão pendentes a passarela e o viaduto, sendo que este último deve ser concluído em outubro. Após ter desembolsado cerca de 55 milhões de reais na primeira fase das obras, a WTorre deve gastar mais 42 milhões de reais.

Procurada pela Reuters, a SMT afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não há novidades sobre o caso, que está sob responsabilidade da CET, responsável pelo estudo sobre o impacto no trânsito local, necessário para emissão do Trap.

Se liberado, o Trap permitirá à WTorre solicitar o "Habite-se" junto à Prefeitura, que terá dez dias para liberá-lo. Só então o shopping terá permissão para entrar em funcionamento. A CET não retornou imediatamente um pedido de comentário.

"É uma vergonha do ponto de vista da gestão pública, que permitiu a construção do shopping", disse Sahyoun. "Existe má vontade em liberar o Trap, e não sei o que há por trás disso, mas o trânsito não é o problema".

O Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo (Sindilojas-SP) divulgou recentemente um levantamento em que aponta, além do enorme prejuízo, risco de desemprego em massa e os efeitos negativos à imagem institucional do Estado e do país.

"Se não remediado a tempo, o efeito dominó poderá ser implacável não apenas para a categoria comerciária, mas para a empresarial, principalmente", assinalou o presidente do Sindilojas-SP, Ruy Nazarian.

Compensações - No início de maio, Carlos Jereissati Filho, presidente-executivo da Iguatemi, dissera que o impasse deveria ser solucionado ainda naquele mês. O cenário atual, contudo, revela lojistas contrariados e na expectativa de algum tipo de compensação, como renegociação de contratos de aluguel.

"Terá que haver uma conversa de bom nível", disse Fernandes, da Laep. "Terão de dar ao lojista alguma contrapartida".

Iguatemi e WTorre não comentaram o assunto.

Com quatro pisos de lojas e estimativa de público diário de 20 mil pessoas, o shopping JK Iguatemi tem área bruta locável de 35.246 metros quadrados e teve investimentos de 322,3 milhões de reais. O complexo conta ainda com duas torres comerciais.

 

 

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