quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Como a Nintendo venceu a guerra dos consoles

Hoje vendo a distante liderança do Nintendo Wii perante seus concorrentes, o Xbox 360 e o PlayStation 3 (distância essa que já foi maior), parece até que a história já havia começado assim e a vitória do console era inevitável. Mas nem sempre foi assim.

Na verdade, tão logo a Nintendo apresentou o Wii, ainda com seu codinome de produção, Revolution, na E3, as especulações tomaram conta do mercado. Ele era pequeno e não traria gráficos equiparados aos concorrentes, algo que até então, julgava-se essencial.

No entanto, ignorando essa concepção de que o salto gráfico era obrigatório, a empresa conseguiu reduzir seus custos de produção, compensando em outro aspecto, o controle de movimento, conhecido hoje como Wii Remote. Não foi realmente o controle de movimento que fez o Nintendo Wii o sucesso que foi, mas ele era parte integral da estratégia. Para entender o sucesso do console de mesa da Nintendo é mais fácil olhar para quem testou a estratégia antes, o Nintendo DS.

Quando a Sony anunciou sua entrada no mercado de portáteis com o PlayStation Portátil, os profetas do apocalipse já preparavam a cova da Nintendo. Apesar de dominar no mercado de portáteis, o mesmo era verdade para os consoles de mesa, antes da chegada do PlayStation.

Até então a Nintendo perdia sempre para a Sony quando a mesma lançava um produto rival e provavelmente a história se repetiria. A Sony é uma grande empresa, não limitada somente aos videogames, e pode arcar com custos de produção mais altos que a Nintendo, através de subsídios e produção interna de peças.

Enquanto a Nintendo lançaria uma máquina com gráficos um pouco piores que o Nintendo 64, a Sony havia conseguido criar quase um PlayStation 2 portátil. Não preciso mencionar o sucesso que o PlayStation 2 era na época e ainda é até hoje.

Ainda assim, com concorrência pesada do PlayStation Portátil, o Nintendo DS se sagrou vencedor, vendendo mais do que o GameBoy Advance, o qual gozava de um vasto monopólio. Como isso era possível? Aqui entra a estratégia de vitória da Nintendo e ela se chama Oceano Azul. Não uma estratégia exclusiva da empresa, você a encontrará em detalhes no livro “A Estratégia do Oceano Azul” de W. Chan Kim e Renée Mauborgne. O que significa Oceano Azul?

Bom, o Capitalismo nos ensina que a competição gera crescimento através da necessidade de superar nossos concorrentes. Mas e se ele estivesse errado? O Oceano Vermelho é exemplificado como empresas tomando o papel de dois tubarões, lutando pelo mesmo pedaço de carne, pintando suas vitórias e oceano com o vermelho do sangue do adversário.

No entanto, há um grande Oceano Azul lá fora de oportunidades inexploradas. Há espaço para todos e o livro propõe: Torne sua concorrência irrelevante. Foi isso que a Nintendo fez quando ao invés de se focar no mesmo público que Sony e Microsoft estavam se focando, tanto nos portáteis quanto nos consoles, ela se focou no público excluído por estes.

Não só isso, o Nintendo Wii na verdade retorna às raízes do que eram os videogames. Numa época em que havia jogos para todos os gostos e que o mercado não estava extremamente centrado no jogador homem entre 15 e 25 anos que jogou sua vida inteira.

Satoru Iwata, Presidente da Nintendo, declarou que o Wii tinha como objetivo, além de agradar os consumidores tradicionais, chegar também para pessoas que nunca tinham jogado e para aqueles que pararam de jogar em algum ponto de sua vida. Havia um imenso mercado negligenciado esperando que alguma empresa oferecesse os valores que eram importantes pra eles, não que elas achavam que eram importantes. Enquanto os jogadores se preocupavam com gráficos, histórias e sistema online, essa parcela excluída não via valor nisso.

Na estratégia do Blue Ocean você corta o que é de senso comum essencial para o sucesso e busca oferecer o que chamamos de “Valor Excepcional”. Com isso a Nintendo conseguiu produzir jogos que estouraram números de vendas e consequentemente venderam consoles, como Wii Sports, Wii Fit, New Super Mario Bros.

É muito difícil explicar para uma empresa porque o jogo dela com gráficos incríveis não vende e jogos como Just Dance quebram a casa dos milhões. Isso porque elas acreditam que o esforço empregado determina o resultado, mas o que realmente importa é o valor que o jogador vê no seu produto. As empresas que não podem entender isso, continuam se refugiando no Xbox 360 e PlayStation 3.

Algumas pessoas acreditam que a Nintendo tomou uma decisão de investir nesse mercado e que na verdade há uma opção. Mas a principal característica do Oceano Vermelho é que ele sempre ruma à auto-destruição. É o que chamamos de corrida ao fundo do poço.

Cada empresa tenta se igualar à outra, oferecendo cada vez menos diferenciais, oferecendo produtos cada vez mais caros, com oferta cada vez mais específica ao ponto que o mercado que ela atende vai ficando cada vez menor.

Se você retirar os números de vendas do Nintendo Wii da corrida, você descobre que a indústria estaria diminuindo de tamanho. Perceba que os jogadores do PlayStation 2 não fizeram a transição para o PlayStation 3 e Xbox 360, eles se tornariam mais público abandonado e desinteressado.

O Nintendo Wii literalmente salvou a indústria e ganhou muito dinheiro no processo. Os concorrentes de olho nessa fatia de mercado, lançaram seus próprios controles de movimento pensando que assim podem abocanhar o público da Nintendo.

Mas não funciona assim, eles não entendem os princípios do Oceano Azul e não sabem o que estão fazendo. Não sabem o público que estão mirando e os resultados já estão ficando aparentes.

O PlayStation Move tão logo foi lançado, já foi esquecido. O Kinect tem vendas altas, mas não vendeu novas unidades de Xbox 360 como era esperado, ele está atingindo o mesmo público que já tinha.

A Nintendo usufrui de um “monopólio” próprio, pois é realmente a única no Oceano Azul. Seus concorrentes são irrelevantes, eles não conseguem ferir suas vendas porque não conseguem descobrir quem é o público dela. Enquanto o PlayStation Portátil faria uma ferrenha competição com um portátil nos moldes do GameBoy Advance, ele não pôde conter a explosão do diferente Nintendo DS.

Assim como se tornou impossível para o Xbox 360 e PlayStation 3 segurarem as vendas do Nintendo Wii.

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